De corar

Decoração é, injustamente, vista como uma arte menor no ramo da estética, porque insere-se (também, mas não só) em ambientes domésticos, os quais são vítima de desprezo por aqueles que miram grandes feitos – como, por exemplo, na política. Os enfeites e adornos, porém, são fundamentais para a vida saudável e, especialmente, para a vida social.

Que o hábito não faz o monge todos sabem, mas é certo que distinguem: mostra quem são os monges. Claro que não se trata somente das vestimentas nem só dos sacerdotes: o conjunto de ações, a postura e a serenidade revelam os sábios. A liturgia e os ritos não são bobagens anacrônicas, e sim a expressão de convenções de respeito mútuo.

Sabedoria é o que se espera, por exemplo, dos anciãos, ainda que William Shakespeare tenha imortalizado a sagaz observação do bobo da corte do Rei Lear: “Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio”.

Também se espera sabedoria das pessoas de elevada posição na estrutura política. O respeito às etiquetas e protocolos é virtude necessária, sobretudo aos mandatários em cargo público de eleição majoritária. Como se sabe, um alcaide representa toda a cidade e não somente seus eleitores. À manifestação externa da sabedoria, na política, deu-se o nome decoro. Curiosamente, essa palavra vem do latim decorum, que significa decência ou algo que convém, assim como decoração. Vemos, então que a estética tem raízes comuns com a etiqueta, que é a exteriorização da ética.

Infelizmente, têm sido cada vez mais frequentes episódios envolvendo representantes eleitos que falam duas vezes antes de pensar, com frases que decerto fariam corar o próprio Rei Lear.

Decoro não é, evidentemente, algo prescindível, porque significa respeito às pessoas em geral. A sabedoria indica, aliás, que respeito não se pede, exige-se.

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