Vinte-vinte

Vinte-dezenove foi um ano cujo formato já descrevia um passo atrás, com sua sequência decrescente das dezenas. Terá sido retrocesso; uns gatos-pingados creem que o foi, mas a um pretérito mais-que-perfeito. É de bom-tom manter o otimismo.

Se o cotidiano ganha-pão teve presente um exaspero incomum, o cenário político manteve a alta-tensão na corda do cabo-de-guerra entre os polos.

Assistimos (estupefatos) a fatos do arco-da-velha no Brasil: bate-boca, erros a queima-roupa e ameaças novas de velhos decretos-lei. Vimos gente barra-pesada escapar à meia-luz, e não teve abaixo-assinado que impedisse. Sobraram maus-tratos à legalidade e salvos-condutos. E as reses campearam onde antes era mata-virgem. Uma montanha-russa de emoções.

No exterior, um exemplo de paradoxo: a Grã-Bretanha a permanecer Reino Unido, entretanto se desunindo da Europa. Nosso governo tentou emplacar alhures um cônsul-geral por fidalguia, que não prosperou.

Poucas coisas foram bem-sucedidas por aqui. A força-tarefa enfraqueceu; o alto-mar enegreceu; o meio-termo se perdeu. Espreitamos o ano-novo com juros e inflação mínimos, e dólar máximo. Talvez seja mesmo só mau-olhado da imprensa. Boas novas – reza a sabedoria – vêm a conta-gotas.

Mas nada de baixo-astral. Nossa democracia entrou na crise da meia-idade e precisa de autoafirmação. Na arte-final, nota-se que os brasileiros estão divididos, todavia próximos, feito caras-metades. Se, por um lado, as diferenças estão no alto-falante, por outro, os cabeças-duras convivem no mesmo lugar-comum.

Vinte-vinte, com suas dezenas iguais, remete a equilíbrio e, só por isso, há que ser melhor. O recuo de vinte-dezenove pode ter sido apenas para tomar impulso na direção de um verdadeiro (e necessário) ano-luz!

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